Empresas de bens de consumo já estão avaliando como equilibrar os resultados financeiros e suas ambições climáticas diante da possibilidade de incorporar a economia circular. Entretanto, elas não devem ignorar um terceiro fator crucial: a evolução do comportamento do consumidor.
A mudança no sentimento do consumidor em relação à sustentabilidade parece ser uma tendência contínua, de acordo com pesquisas recentes. A Pesquisa Global Consumer Insights da PwC revela que, no geral, oito em cada dez consumidores afirmam que pagariam acima do preço médio por um item mais sustentável.
A geração millennial e a geração Z têm demonstrado maior disposição para gastar mais em produtos e serviços sustentáveis. Isso sugere que essa mudança de valores continuará conforme essas gerações amadurecem. No entanto, há dúvidas sobre até que ponto essa preferência por sustentabilidade se traduz em comportamentos reais, já que conveniência e custo ainda são fatores importantes.
Moda torna a revenda uma realidade
A indústria da moda demonstra como o comportamento do consumidor impulsiona a circularidade. A abordagem típica da indústria para descarbonizar a cadeia de valor tem sido a reciclagem, em que o material têxtil de base é reutilizado na fabricação de novos têxteis. No entanto, o surgimento de plataformas de revenda peer-to-peer, como Depop, Vinted e Vestiaire Collective, demonstrou o apetite por itens usados de qualidade. Isso pode ter sido impulsionado, em parte, pelo interesse dos consumidores em obter mais valor devido à redução dos seus rendimentos, além da crescente ênfase nos valores ambientais. Mas o fato serviu para provar à indústria que existe um mercado para as marcas explorarem modelos circulares.
O recente relatório Circular Fashion, da PwC Reino Unido, revelou que 70% das emissões da indústria da moda provêm da extração e produção de matérias-primas. A reutilização de produtos, portanto, é de longe a alavanca mais poderosa para reduzir a pegada ambiental da indústria – a reciclagem impacta dez vezes a redução de carbono. Isso significa que as marcas devem adotar modelos circulares com foco em consertos e revenda para reduzir a produção, apesar dos desafios econômicos envolvidos na revenda de moda.
Fidelização do cliente e a circularidade da xícara de café
Quando a circularidade pode ser introduzida em fluxos de resíduos de consumo em grande volume, o benefício potencial é mais evidente tanto para a sustentabilidade como para os resultados comerciais. Quando a PwC conduziu uma pesquisa sobre como a circularidade poderia reduzir o consumo de xícaras de café descartáveis, ficou demonstrado que a compreensão dos hábitos de compra e do comportamento do consumidor pode revelar oportunidades comerciais inexploradas.
David Drew, especialista em circularidade da PwC Reino Unido, afirma que “sistemas de embalagens retornáveis bem-sucedidos dependem do hábito dos consumidores. Quando eles compram regularmente os mesmos produtos, nos mesmos formatos, estão mais preparados para uma transição para embalagens retornáveis. Ao contrário da maioria das outras opções de embalagens, a escolha de embalagens retornáveis não atingirá seus objetivos sem a colaboração do consumidor”.
No entanto, uma abordagem estratégica cuidadosa pode alinhar o comportamento do cliente com a circularidade, partindo do ponto onde a lealdade à marca e os valores pessoais se encontram. Nossa pesquisa sobre xícaras de café indica que 10% dos clientes mais regulares visitam sua cafeteria favorita com frequência. Desses, cerca de 73% fazem uma nova visita em cinco dias (com base em dados de 2022).
Assinatura de carro orienta a indústria automobilística para a circularidade
Na indústria de carros, o mercado pode finalmente estar maduro para o modelo de assinaturas – uma forma alternativa de ter um carro para uso pessoal sem precisar ser proprietário ou se comprometer com um leasing de vários anos.
A pesquisa da Strategy& “eReadiness 2023”, entretanto, mostra que os clientes ainda se preocupam com preços mais elevados, questões de confiabilidade, autonomia da bateria e infraestrutura de carregamento e valores residuais. Isso criou condições quase perfeitas para assinaturas de carros: nosso estudo recente sugere que mais de 49% dos consumidores elegíveis estão propensos a fazer uma assinatura de carro nos próximos cinco anos. A maioria busca uma combinação de certeza de custos, conveniência, baixo comprometimento e oportunidade de economizar dinheiro quando o carro não estiver em uso.
Via PwC
Contatos
Mauricio Colombari
Sócio e líder de ESG, PwC Brasil
Luciana Medeiros
Sócia, PwC Brasil