São Paulo e Nova York, 03/01/2025 – O ano de 2025 começa com a expectativa de ao menos quatro grandes negócios de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no Brasil, na casa dos bilhões de reais: a venda da Medley pela Sanofi; a da Suvinil pela Basf; a da Linx pela Stone; e a da operação brasileira do grupo suíço Julius Baer. Transações desse nível animam bancos de investimento a preverem que o este ano terá mais operações de M&As do que em 2024 e 2023, mas ainda não repetindo o salto de 2021, quando a pandemia estimulou uma série de negócios.
No ano passado, foram anunciadas 1.426 transações de M&As no Brasil, o que representa crescimento de 1,86% na comparação com 2023, segundo dados da consultoria Kroll, obtidos com exclusividade pelo Broadcast. O País liderou as atividades de fusões e aquisições na América Latina, respondendo por 63% das transações. Por sua vez, a região contribuiu com 5% dos negócios globais, que totalizaram cerca de 44 mil operações.
Mesmo com o estresse que marcou o fim de 2024, com juros e dólar disparando e Bolsa em queda, a visão é que há espaço para avanço nas operações nos próximos meses. Além dos negócios acima, há apostas em operações em setores como infraestrutura, fintechs e saúde, que podem movimentar outros bilhões, a preços com prêmio em relação aos comparáveis na tela da B3, na visão de banqueiros da Faria Lima.
O diretor de Global Banking para Brasil do UBS, Anderson Brito, conta que o banco já tem 10 operações de M&A engatilhadas para assinar, o que sinaliza que os ruídos econômicos não estão tendo por enquanto tanta interferência nos negócios. “Esperamos transações em setores nos quais há crescimento do Brasil contratado”, disse ele, citando áreas como seguros, infraestrutura, transição energética e fintechs. O dólar acima de R$ 6,00 pode ser um bom ponto de entrada, ressalta o executivo, sobretudo para estrangeiros.
Além dos negócios locais, o responsável pela área de fusões e aquisições do Santander Brasil, Thiago Rocha, vê um crescente número de grandes empresas brasileiras buscando aquisições no exterior, em uma tentativa de ganhar novos mercados, e também ter exposição a moeda forte. Já os fundos de private equity, que compram participações em empresas, podem participar de negócios importantes em 2024. Nomes como Vinci e Pátria estão entre as gestoras mais ativas nos últimos meses. Mas o clima nas gestoras ainda é de cautela, o que deve aumentar a seletividade. Em 2024, investidores financeiros, como esses fundos, estiveram presentes em apenas 36,5% das transações, segundo a Kroll.
“Os fundos têm capital para alocar. Os bancos têm começado a mostrar coisas”, afirma a presidente da ABVCAP, associação que reúne as gestoras destes fundos, Priscila Rodrigues. A questão é que com a Selic em patamares mais altos a cautela e seletividade aumentam. “Quem tem dinheiro para investir, vai definir termos e condições, escolher bem, vai encontrar menor competição para o mesmo ativo”, afirma.
O chefe para Brasil e América Latina da Kroll, Alexandre Pierantoni, está mais cauteloso e avalia que, apesar da expansão em 2024, o setor de M&As no Brasil pode amargar queda no número de transações neste ano. Pesam, sobretudo, incertezas fiscais no País e uma antecipação das eleições presidenciais de 2026. “Devemos ter uma redução do volume de atividade de M&A depois de recordes alcançados nos últimos anos”, prevê Pierantoni, em entrevista ao Broadcast.
O diretor da Kroll demonstra ainda preocupação com uma menor presença do estrangeiro, que tem reduzido o apetite pelo País em meio às incertezas, e alguns grupos de fora têm até deixado o Brasil. No ano passado, a participação desses investidores nas fusões e aquisições foi de 17,7%, patamar muito inferior ao histórico, que chegava a 35%, de acordo com a Kroll. Já os domésticos tiveram uma posição dominante, marcando presença em 82,3% das transações anunciadas no País em 2024.
“Há um interesse mais oportunista, essa é a palavra do momento”, diz o advogado Carlos Lobo, sócio do escritório Arnold & Porter, baseado em Nova York.
Rocha, do Santander, vê tendência maior em M&As de negócios envolvendo fundos soberanos, dedicados a situações especiais ou gestoras de fortunas de famílias, por terem apostas de longo prazo sem tanto envolvimento na gestão das empresas. “Eles conseguem oferecer cheques relevantes sem tanta demanda de governança como os private equities”, afirma o executivo. Para estes, o executivo prevê participação nos negócios, mas também com maior seletividade. “Eles precisam enxergar tese de crescimento mais sólida, não gostam dos casos que estão segurando a faca que está caindo.”
Por Altamiro Silva Júnior (altamiro.junior@estadao.com), Cynthia Decloedt (cynthia.decloedt@estadao.com) e Aline Bronzati (aline.bronzati@estadao.com), correspondente via Broadcast Estadão